quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Conflitos em Gaza.

O que um nome encerra?
Pastor Ricardo Gondim.

Essa pergunta foi feita por Shakespeare. Eu respondo. Um nome guarda um ser, estabelece uma identidade, firma um perfil, cria uma imagem. Quem diz Martin Luther King, Nelson Mandela ou Madre Tereza transmite valor, solidariedade, justiça.
Os nomes criam preconceitos. Basta mencionar Karl Marx e tudo o que envolveu o comunismo, principalmente o soviético, vem à tona. Franco ficou associado à sangrenta Guerra Civil espanhola, Pinochet, à truculência, Nixon ao Watergate, os Beatles, à contracultura da década de 1960. Sim, um nome encerra muita coisa.
Os títulos também valem muito. Na religião, taxar alguém de herege pode desautorizá-lo à priori. No futebol, o cartola é o caudilho que manda e manipula. Sindicalistas venais são xingados de pelegos. Na política, desqualifica-se alguém como um corrupto.
Esses rótulos podem ter mais ou menos relevância em épocas diferentes. Nos anos de chumbo da ditadura, ser guerrilheiro era uma maldição, os subversivos, malditos (meu pai foi chamado de subversivo). Quando os militares queriam arrasar com uma pessoa, vazavam a informação que era guerrilheiro; com essa pecha, o sujeito corria o risco de ser legitimamente assassinado pelo regime.
Hoje, a maldição da moda é considerar alguém um terrorista. Quem receber esse estigma está ferrado para sempre. Não pode viajar, ter conta em banco ou expressar sua opinião em lugar nenhum. Na baia de Guantanamo, em Cuba, os Estados Unidos mantém um campo de concentração onde estão presas pessoas consideradas terroristas por alguém, em algum lugar, por algum motivo. Como não foram processadas por qualquer lei e, não há acusação formal contra elas, mofam, esperando que lhes informem o crime que cometeram. Kafka talvez nunca tenha imaginado que seu pesadelo aconteceria tão cedo.
Quais os critérios para que algum país trate o outro como terrorista? Pela sofisticação de suas armas? Quando os Estados Unidos jogavam Napalm sobre o Vietnam, comportavam-se como uma nação terrorista? Que tal a aventura cubana de exportar revolução para a África? Um palestino que se explode em uma praça pública para matar o maior número de pessoas é um terrorista, com certeza. Mas o que dizer de um piloto que aperta o botão que dispara mísseis a laser sobre uma praça pública? Qual a diferença entre os dois?
Nizar Rayyan era um terrorista. Ele era um dos lideres do Hamas. Foi assassinado na ofensiva israelense na Faixa de Gaza. Não há como justificar o ódio de Rayyan, principalmente quando sabemos que ele deixou o filho de 22 anos de idade se matar como homem bomba. Ele era mau, respirava vingança e não posso, e nem quero, defendê-lo. Contudo, para eliminá-lo, Israel bombardeou a sua casa. Todos morreram enquanto dormiam: quatro mulheres, seis filhos, e mais duas pessoas.
Não, Rayyan não se valeu de inocentes como escudos humanos. Ele dormia em casa. Por que não houve uma comoção planetária contra a morte de 12 inocentes? Porque o mundo considera essas mortes danos colaterais; o bem maior de eliminar um terrorista perigoso justifica que outros também sejam assassinados juntos. Fica a pergunta: e se um palestino considerar um líder judeu uma ameaça? E se ele tentar matar toda a família do presidente dos Estados Unidos? – Calma! Não estou sugerindo, nem de longe, que alguém deve fazer tal absurdo – Quero só pensar como nós reagiríamos para, depois, entender a reação dos palestinos. Não podemos ficar de um lado da trincheira, cheios de preconceitos, aceitando que se cometam atrocidades contra inocentes. Todas essas lógicas estão erradas! Nenhum inocente deve pagar pelos erros dos outros. Não é possível que, em nome de uma caçada a terroristas, crianças, mulheres e idosos paguem com as suas vidas. O preço é alto demais. Ódio não gera paz. Assassinatos não acabam com a violência – os brasileiros, que já viram truculência parecida nas favelas, sabem que não se eliminam os traficantes com tiroteio; quanto mais se mata, mais bandido aparece.
Se Israel fizer um cinturão de bondade ao redor da Faixa de Gaza; tratar o povo já sofrido com a dignidade que tanto faltou aos judeus na década de 1930, tenho certeza que essa onda de violência acaba. Jesus mandou que Pedro guardasse a sua espada e não revidasse, “porque quem com a espada fere, com a espada será ferido”.
Chega de rótulos, chega de preconceitos, chega de tanta ira. Somos irmãos, habitamos uma só casa, e mesmo que discordemos sobre religião, política ou filosofia, todos celebramos o amor - Deus é amor.

Soli Deo Gloria.

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