quarta-feira, 1 de julho de 2009

Eu vou....

“É para o bem de vocês que eu vou”, disse Jesus a seus temerosos e ainda confusos discípulos, quando cogitaram de Sua iminente morte [João 16.7]. O assunto do ensinamento daquele dia era a partida. Ele precisava falar sobre o deixar para trás, o ir embora, o dizer adeus, o desejar felicidades! Ao ouvir essas palavras, vamos primeiro sentir tristeza. Se você já esteve em lugares onde barcos, aviões, trens, ônibus conduzem a destinos longínquos, deve haver visto muitas lágrimas quando relacionamentos íntimos foram interrompidos e as pessoas tiveram que se separar.

Mas o adeus de Jesus tem outra conotação. Ele anuncia sua dolorosa partida como uma promessa: “é para o bem de vocês que eu vou”, disse ele, “Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei” [João 16.7]. Diante dessas palavras, a partida perdeu seu senso de fatalidade. Eles não mais veriam Jesus, mas experimentariam a presença mais constante do Espírito Santo, a quem Jesus iria enviar. Dor e alegria, ansiedade e liberdade, perder um amigo e ganhar um amigo não estão mais em conflito entre si, mas caminham juntos nessa emoção mais profunda da esperança que sobrepuja com freqüência qualquer articulação. E isso porque, mesmo na perda daquilo que nos é mais caro, Deus caminha ao nosso lado e torna-se o nosso companheiro mais próximo.

Temos que enfrentar não só a nossa própria morte, mas de bom grado levar em conta a morte daqueles a quem conhecemos e amamos, daqueles com quem convivemos. Partir torna-se uma condição de vida, uma condição para crescimento do cristão. O adeus de Jesus traz um suave convite para compreender nossa vida como uma constante partida: daquilo que nos é familiar, para o que é eterno; daquilo que desfrutamos de forma temporária para aquilo que um dia desfrutaremos para sempre. E iremos experimentar a partida de outros, os quais também têm parte nessas transições inevitáveis de nosso mundo.

Se a vida, porém é uma constante partida, um constante esvair-se do passado, para alcançar mais independência, mais liberdade e mais verdade; se nossa partida final nos dá a independência final, a liberdade e a verdade para o que temos buscado às apalpadelas por toda a nossa vida, por que tudo isso não pode ser para aqueles aos quais amamos?

Se isso é verdade, a morte não é mais o cruel destino do homem e sim um sinal de conhecimento profundo. E, à luz da partida de Cristo, poderemos amar, não apesar da morte, mas por causa dela.

Não fomos feitos para amar coisas imortais. Só o que é insubstituível, único e mortal pode tocar nossa mais profunda sensibilidade humana e ser fonte de esperança e consolação. Deus só se tornou possível de ser amado quando se tornou mortal. Tornou-se nosso Salvador porque a sua mortalidade não foi fatal, mas, sim, o caminho da esperança.

Temos visto muitos partirem do nosso meio. Milhares se vão: grandes líderes, amigos queridos e muitos outros desconhecidos, mas que são parte de nossa vida. Nós os amamos porque não podem ser substituídos, pois eram humanos. Talvez precisemos começar a ver, através do adeus de Cristo, que mesmo os nossos dias podem ser dias de esperança, abrindo caminho para o Espírito Santo vir, abrindo as portas fechadas de nossos medos e conduzindo-nos à plena liberdade e à plena verdade. E à gratidão.

O principal personagem e narrador do romance My Name is Asher Lev descobriu alguma coisa sobre isso. Ele desejava muito, desde a meninice, desenhar e pintar como um artista.

E eu desenhei, também, o caminho onde uma vez meu pai olhou para um passarinho estirado de lado contra o meio-fio, perto de nossa casa. Era Sabbath [sábado] e vínhamos voltando da sinagoga.

- Ele está morto, papai? [Eu tinha seis anos e nem conseguia olhar a cena].
- Sim – ouvi-o dizer, de maneira triste e distante.
- Por que ele morreu?
- Porque tudo o que vive deve morrer.
- Tudo?
- Sim.
- Você também, papai? E a mamãe?
- Sim.
- E eu?
- Sim – respondeu, acrescentando: - Mas pode ser que seja depois de você viver uma longa e boa vida, meu querido Asher.

Não pude entender. Fiz esforço para olhar para o pássaro. Tudo o que vive ficará como este pássaro?

- Por quê? – perguntei.
- Foi assim que o Ribbono Shel Olom fez esse mundo, Asher.
- Por quê?
- Porque assim a vida seria preciosa, Asher. Alguma coisa que é sua para sempre nunca será preciosa.

Medite:

“Sarar é permitir que o Espírito Santo me chame para dançar e crer de novo que, mesmo na minha dor, Deus vai orquestrar e guiar a minha vida”.

Extraído do livro “Transforma meu pranto em dança" de Henry Nouwen.

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